1-Orçamento 2010 e dívida pública
Estamos a chegar ao fim do ano e esperamos que não haja mais buracos no Orçamento . A Saúde é sem dúvida um dos sectores que mais dores de cabeça tem dado ao Governo contribuindo para o desequilíbrio orçamental. Temos uma população envelhecida que cada vez recorre mais aos Centros de Saúde para se tratar. Tudo isto acarreta um consumo intensivo de medicamentos e uma maior utilização dos meios auxiliares de diagnóstico. Na Educação não sabemos até que ponto o Estatuto dos Professores que lhes permite progredir na carreira sem limite de quotas não irá agravar ainda mais o défice orçamental. Se o orçamento tivesse sido elaborado com rigor certamente que não haveria tantos corte e rectificações a fazer como aconteceu este ano. É um facto que as Receitas são muito difíceis de prever e de calcular. O mesmo não se passa com as Despesas que devem ser rigorosamente controladas de forma a não excederem as dotações orçamentais. Eu diria mesmo que deviam ser responsabilizados os ministérios que ultrapassem os limites fixados na Lei Orçamental.
Quanto à dívida pública ficámos a saber que são muitos os países que nos querem emprestar o dinheiro que precisamos: China, Venezuela Líbia, Brasil e até Timor. Resta saber quais são as contrapartidas que cada um vai exigir em particular a China e a Líbia de Kadafi. Da China já sabemos que invadiu o país de lojas e se prepara certamente para se apoderar de outras riquezas como a exploração do Porto de Sines. Podemos não precisar do FMI mas ficamos muito dependentes dos países que nos querem ajudar.
2-Wikileaks
Outra notícia que deu que falar foi a divulgação através da Wikileaks de telegramas enviados por embaixadores para os seus países, abordando assuntos de natureza confidencial. Como foi possível ter acesso a esses documentos é matéria que dá que pensar. Hoje a globalização torna o Mundo pequeno e as notícias correm céleres de um lado para o outro podendo gerar conflitos entre Estados ou até guerras. Há muita gente a espreitar escândalos e os órgãos de comunicação social aproveitam-se muitas vezes dessas notícias para fazer dinheiro e ganhar audiências. Se é bom denunciar os casos de corrupção e a violação dos direitos humanos por outro lado há que respeitar em muitos casos o sigilo e a privacidade para não se cair no” vale tudo”.
As revelações do Wikileaks podem no entanto ser vantajosas se obrigarem os Governos e os políticos a serem mais transparentes com o que afirmam ou divulgam em público para depois não serem apanhados em contradição. De qualquer forma ninguém quer ver o Estado como o imaginou George Orwell onde em cada esquina há um espião a controlar tudo. Embora eu não seja um” voyeurista “ acredito que haja pessoas que gostem de mexeriquices e de Big-brothers .
3-As entrevistas do cardeal D.José Policarpo e do bispo D.Carlos Azevedo
Confesso que fiquei um pouco desapontado com a entrevista que deu à revista Visão o senhor cardeal patriarca D.José Policarpo. Quando o jornalista lhe perguntou o que achava da atribuição do Prémio Fernando Pessoa a D. Manuel Clemente disse que se fosse ele não o aceitaria porque desconfiava da intenção de quem o atribuiu. Fui consultar a decisão do Júri e verifiquei que o prémio foi atribuído tendo em conta “ a postura de defesa do diálogo e da tolerância, de combate à exclusão e da intervenção social da Igreja. O júri referiu ainda a vasta obra historiográfica de D. Manuel Clemente.
Ponderando todas estas razões não vejo motivos para recusa na aceitação do prémio. Penso que a intenção do júri foi tão só premiar o mérito e as qualidades pessoais de D. Manuel Clemente. Se os membros do Júri são agnósticos ou ateus isso é irrelevante até por que a Igreja se deve relacionar com todos..
Em relação a uma nota da Conferência Episcopal D.José Policarpo diz que “ ela roça muito a crítica política “ e que ele prefere o “ anúncio “ em vez da denúncia.. Concordo que a missão fundamental da Igreja seja o anúncio do Evangelho. Mas isto não quer dizer que os casos de injustiça social, os cortes salariais e dos abonos de família não possam ser criticados e denunciados pela Igreja.
Na mesma entrevista o senhor cardeal patriarca confessou que ficou desiludido quando Cavaco Silva promulgou a Lei do casamento dos homossexuais pois poderia ter levado até ao fim os mecanismos constitucionais de que dispunha, ou seja, o direito ao veto. Como católico devia ter tomado essa posição. Aqui concordo inteiramente com D. José Policarpo. Se Cavaco Silva não concordava com a Lei e a promulgou não estava a ser coerente com si próprio e com os princípios que pratica.
Quanto à entrevista de D. Carlos Azevedo ao Semanário Expresso confesso sinceramente que me agradou. É um homem sem papas na língua e que não tem medo de dizer o que pensa.. D. Carlos diz que” é preciso actuar no concreto e que às vezes o estar calado ou não intervir pode ser pecado”. Acrescentou ainda que é preciso não ter medo que as intervenções da Igreja sejam apelidadas de políticas. O que não devem ser é partidárias. E mais à frente afirma: “ Alguém que reza ao Deus vivo tem de se comprometer nas situações políticas. Se não, não é verdadeiro cristão “
Estas palavras são elucidativas e devem interpelar todos os que se dizem cristãos. Jesus também não teve medo de denunciar os fariseus ,os saduceus e toda a classe política do seu tempo,
Francisco José Santiago Martins
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