Como os meios de comunicação social referiram o Papa Bento VI recebeu recentemente os bispos portugueses no âmbito da visita “ ad sacra limina apostolorum” ( ao túmulo dos apóstolos). Do relatório apresentado ao Papa conclui-se que há aspectos preocupantes a pedir uma reflexão. Verifica-se que têm diminuído o número de vocações, de baptizados, de pessoas que vão à missa aos domingos. Há também muita gente que se diz católica mas não é praticante. Estes casos não espantam porque são do conhecimento geral. Importa então saber a génese desta situação. Na minha modesta opinião por detrás deles estão factores endógenos e exógenos à própria Igreja. Passarei a analisar em primeiro lugar os últimos.
Vivemos uma época de materialismo que eu designaria pela filosofia dos “ ismos “: hedonismo, nihilismo e relativismo. Para o hedonismo a felicidade está no prazer. Gozar a vida , comer e beber bem . Já o escritor Horácio dizia nas suas Odes “ Carpe diem “( aproveita o dia) . Desfrutar o que a vida tem de bom não é pecado. O que é pecado é fazer disso um fim.. O nihilismo ( em latim nihil quer dizer nada ) entende que a vida e a existência não têm sentido. Tudo se reduz ao nada .Finalmente o relativismo pensa que não há uma verdade absoluta. Não há bem nem mal, tudo é relativo. De uma maneira geral as pessoas e particularmente a juventude não ficam imunes a estas filosofias. Por outro lado as famílias de hoje já não são o que eram algumas décadas atrás. Não há tempo para dialogar com os filhos. A transmissão de cultura religiosa não existe. Os jornais que mais vendem são os tablóides ou seja os que relatam em pormenor os crimes, as misérias e os escândalos. Os programas nas televisões são de uma maneira geral medíocres. A informação religiosa quase não existe. Não me admira portanto que haja menos vocações religiosas. A juventude é sem dúvida tributária desta situação. Convém no entanto abrir um parêntesis para referir que as vocações são hoje mais sólidas porque são feitas por pessoas adultas que sabem o que querem.
Passarei agora a analisar as causas que têm a ver com a própria Igreja. O papa disse aos bispos que “ é preciso mudar o estilo de vida de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros “ Há portanto um reconhecimento explícito de que as coisas não estão bem na igreja portuguesa e que é preciso mudar. Eu atrever-me-ia a dizer que é preciso mudar muito. Como disse o porta-voz da conferência episcopal,D. Carlos Azeredo ao jornal “ Público “ é necessário que os padres se virem mais para fora da igreja para os que não são católicos. Concordo perfeitamente. É preciso gastarem mais tempo no exterior ,ouvindo, escutando e dialogando com as pessoas, dispondo de mais tempo para quem necessita de ajuda. Respeito os monges de clausura mas aprecio e louvo ainda mais os religiosos e religiosas que se voltam para a sociedade ajudando os que precisam nos hospitais, lares e instituições de solidariedade. Aprecio e admiro os missionários que nos diversos continentes , no sertão e nos sítios mais inóspitos não só divulgam o Evangelho mas têm uma acção pedagógica em diversos domínios: ensino,saúde, agricultura , artes e ofícios, etc. . Entendo ainda que se devia dar mais peso aos leigos, homens e mulheres , na igreja, desde que se sintam vocacionados para o fazer. Não me parece que a crise de vocações esteja no estatuto de celibato que se exige aos padres. A crise está mais no lado materialista dos dias de hoje. As pessoas pensam apenas nas carreiras que dão dinheiro e status social. Pessaoalmente admito que este estatuto deveria ser revisto de forma a ser colocado em termos de opção. O casamento não deveria ser entrave a quem tiver vocação para o sacerdócio.
Da análise que acabei de fazer e da ponderação de todos as causas podemos concluir que há muito a fazer na igreja católica portuguesa. É uma tarefa conjunta que envolve padres e leigos ou seja de toda a comunidade. Mas a História diz-nos que houve sempre uma resposta para estes problemas. Homens e mulheres souberam com o seu exemplo e testemunho indicar o verdadeiro caminho para Deus. Como diz o Padre Anselmo Borges “é possível que a ciência e a técnica obscureçam a força do apelo religioso e de Deus. Mas permanecendo a finitude e a sua consciência, há-de erguer-se sempre a pergunta do Sentido último “
Francisco Martins
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